Anabela Quelhas
Délia Fagundes
Marido
Carla Azevedo
Deolinda
Paulo Cristal Ribeiro
António Mota
Cristina Caldas
Luisa Costa
Adelaide Afonso
Marina Teixeira
Isabel Sarmento
Fernanda Gouveia
...
Entre o pesadelo e a realidade fica esta sessão no kartódromo que até me fez perder a memória dos livros partilhados, aceita-se ajuda.
Texto lido pela Carla Azevedo a propósito do "Fato que nunca vestimos"
"A Anabela escreve, publica, mas não apresenta sozinha porque
eu também quero!
Hoje fazemos a apresentação não da arquiteta, mas da
escritora.
Anabela, a arquiteta, personagem artisticamente
multifacetada, corre os caminhos da escrita, da pintura, da arquitetura e da
música, pois para além de gostar de a ouvir ficámos também a saber que também arranca umas
notas doridas num órgão.
Com um irreverente sentido de humor, discreto, mas afiado, é
alguém cuja firmeza e consistência política não deixa ninguém indiferente,
levando-nos mesmo a perguntar como é que alguém ainda consegue ser comunista
(afinal não é! Engano meu porque não a conheço ainda muito bem!) Mas não lhe
perguntamos porque sabemos que ela tem argumentos que nos podem chegar, não a
convencer, mas a calar. Caso fosse comunista, que não é!
A irreverência é um traço vincado da sua personalidade, a
vontade de mudar, de melhorar, o que a levou a esta silhueta de sereia, que a
levará certamente a outros voos artísticos.
É leal e amiga, sem olhar a quem!
As suas raízes transmontanas e o seu apego a África,
especialmente a Angola, onde viveu, fazem dela esta mistura de mulher
guerreira, por vezes de ar duro e agreste (acho que já foi mais sisuda, ou
talvez eu não a conhecesse!) verdadeira leoa, mas com açúcar no coração e calor
nas veias.
Todos estes traços da sua personalidade estão bem marcados
neste livro “O fato que nunca vestimos”, onde a autora, em tom pessoal e
conversador, numa escrita cuidada, muitas vezes poética, mas misturada com
linguagem coloquial e uso de expressões populares, para nos fazer sentir a
personagem ou entender o contexto social, reflete sobre questões políticas,
sociais, culturais e morais.
Com episódios de humor, outros nem tanto, mas em todos se
destacam sentimentos genuínos e experiências verdadeiras. Umas que sentimos
mais de perto porque nos tocam de alguma forma, outras que nos colocam um
sorriso no rosto ao pensarmos “já não me lembrava disto!”
Ensaio ou livro de memórias? Os dois e também documento
histórico, não só pelas informações interessantes que coloca em rodapé, mas
principalmente pela forma como nos coloca na época, e como nos faz experienciar
as mesmas emoções, e como partilha essa realidade com as gerações que já não
tiveram essas vivências. Este é um presente que dá ao filho, mas também ao mundo,
pois alguns dos pormenores ali descritos se não forem partilhados, são
esquecidos. Alguém disse que as nossas lembranças não são exclusivamente
nossas, são coletivas, pois só as temos porque agimos/interagimos com outros.
Teolinda Gersão referiu que os escritores têm o papel de
guardar a memória. Anabela cumpriu esse papel.
Por fim, no último capítulo, a autora escreve para os mais
distraídos, para os saudosistas, para eternos insatisfeitos, mostrando-lhes que
naquela altura não era melhor.
Anabela nunca vestirá nenhum fato que lhe seja imposto, será
sempre ela a escolhê-lo."